Minha Amiga Marta

Marta é uma amiga de longa data. Amiga mesmo, daquelas de chorar abraçada com a gente.
Marta casou-se aos 18 anos, feliz, cheia de sonhos e esperança de que a vida lhe fosse leve, afinal, acreditava que o amor seria infindo.
Qual o quê !
Já no 2º ano de casamento, começaram as crises. Ou era ciúme, ou falta de dinheiro, ou acusações recíprocas, ou tudo junto e misturado.
Releva daqui, esquece dali, concessões, desculpas, perdões.
E assim seguia o baile.
A primeira separação aconteceu. Ela não lembra (ou não quis falar) o motivo. Ficaram 4 meses separados. Aos poucos o marido foi voltando e, numa dessas ficou definitivamente.
Poucos anos depois, veio a segunda.
Diga-se, por “interferência externa”. Mais especificamente, a “interferência” tinha nome, cabelos longos, silhueta de manequim e total falta de noção, responsabilidade e solidariedade feminina. O “fulano” era casado.
Empecilho ? Que nada.
Mais uma vez sozinha, Marta jurou que não o aceitaria de volta. NUNCA MAIS !!!
Aha, sei !
6 meses depois, o “fulano” estava de volta. Com o rabinho por entre as pernas e com aquela cara de cachorro que quebrou o vaso chinês caríssimo !
E voltaram às boas. Entre altos e baixos (como todo casamento), viveram juntos por quase 35 anos.
Filhos (um casal) crescidos, formados, casados, a síndrome do ninho vazio instalou-se no reino de Marta.
O “fulano” resolveu voltar a trabalhar.
Marta em casa, cada vez mais deprimida, desleixada e desiludida.
E começaram as cobranças e o “fulano” cada vez mais ausente, até que em um final de tarde, como era de costume, Marta sentou-se na varanda e o esperou. Anoiteceu e o “fulano” não voltou.
Sobressaltada, Marta acordou com o telefone tocando. Era o “fulano”, gentil e cavalheirescamente avisando-a de que não voltaria para casa, pois ia tentar “ser feliz com o seu novo amor”.
Foi o golpe mais baixo e sujo que Marta sofreu. Dor, desalento, mágoa, ressentimento, tudo isto invadiu a cabeça da pobre infeliz, que já num emaranhado de sentimentos, não conseguia raciocinar.
Algum tempo depois, percebendo que o “fulano” não voltaria, tomou as rédeas da situação. Pediu divórcio, mudou de nome e de endereço e foi fazer terapia. Foi um processo longo e sofrido que às vezes a levava a pensar em desistir. Não foi da noite para o dia que Marta sentiu-se livre (?) daqueles sentimentos, digamos, inferiores.
O tempo passou.
Às vésperas de completar 60 anos, Marta foi a confeitaria encomendar um bolo porque os filhos viriam cumprimentá-la no dia seguinte.
Literalmente na fila do pão, um toque no seu ombro…”Sra. sua vez”…-… “desculpe, estava distraída, obrigada”, responde. Saiu da fila do pão para entrar na fila do caixa, e mais uma vez o mesmo toque no ombro. Sem jeito, Marta agradeceu e foi.
Enquanto esperava o sinal abrir, a mesma voz : “cuidado para não se distrair ao atravessar a rua”! Rindo Marta respondeu : “já acordei, não se preocupe”.
“Francisco, meu nome é Francisco e o seu ? Marta”.
E foram andando, juntos….e isso já faz 5 anos e continuam andando juntos, só que agora de mãos dadas e felizes.
Suspirando e ternamente olhando para o “seu” Francisco, Marta, enfim, descobriu a felicidade.

Seja muito feliz, Amiga !!

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