Autor brasileiro joga balde de água fria sobre o tradicional conceito de autoestima
Se você é um ser humano, e vive aqui na Terra, em algum momento já ouviu falar da importância da autoestima, e certamente, também já pensou que precisava melhorá-la. É muito improvável, porém, que já tenha ouvido falar que a autoestima não passa de uma disfunção psicológica. É isso que o filósofo e jornalista Jacob Petry, autor de inúmeros livros sobre o tema, vem polemizando. Segundo ele, o ser humano cria uma imagem mental sobre si próprio, baseada nas percepções que tem das experiências ao longo da vida, e depois passa a viver como se fosse essa imagem mental. “Isso cria uma dualidade”, ele explica. “Afinal, existe a imagem mental, mas também existe àquele que possui essa imagem mental. Qual dos dois é você?”, questiona.
O autor observa que o ser humano é o único ser que possui uma relação com ele mesmo. Essa relação, segundo ele, é o que cria a autoestima. “Você não apenas cria uma imagem sobre si, mas passa a ter uma relação consigo mesmo. E essa relação é idêntica a que temos com outras pessoas. Observe como você dialoga consigo mesmo. Alguns, dialogam consigo na primeira pessoa, outros, na terceira pessoa. É comum falarmos, por exemplo, coisas como “por que você fracassou de novo?” “Por que você não para de comer, não está vendo que está gordo?”. Segundo Petry, o problema maior, é que esse diálogo interior, com nós mesmos, se torna inconsciente. “Criamos padrões mentais que se tornam automáticos e que assumem total controle sobre nossa mente. Esses padrões são as vozes involuntárias que ouvimos na nossa cabeça o dia todo e que não conseguimos calar”, explica.
Jacob Petry comenta que, por conta dessa inconsciência, a maioria das pessoas sofre com a baixa autoestima. Segundo ele, a característica geralmente negativa desses padrões inconscientes, faz com que esse diálogo interno seja de cobrança e depreciação. “Você olha seu corpo nu no espelho e diz: como você está horrível, e com isso, você se sente mal, você cria uma relação de desafeto consigo mesmo”, ele explica. “A partir de então, ao invés de lidar com a realidade, você passa a lidar com a ideia que gera a emoção negativa”, conta. “Você deixa de se aceitar. Mas quem é que não aceita quem nessa relação?”, ele pergunta. “Eu não aceito a mim mesmo, parece ser a resposta. Mas existem duas pessoas nesse processo: o que não aceita, e aquele que não é aceitado. Essa é a disfunção”, ele explica.
O grande erro, segundo Petry, e que vem criando alvoroço no mercado de desenvolvimento pessoal, está em querer melhorar essa relação, ao invés de eliminá-la. “Você é orientado, por exemplo, a parar em frente ao espelho, fazer a pose do Super Man para melhorar o “falso eu” que você criou de si mesmo. E, de fato, se fizer isso existe uma boa chance de você melhorar essa relação com a sua imagem mental. Você passa a se sentir menos ameaçado, menos desconfortável com a nova imagem mental que criou, mas por quanto tempo?”, questiona. O autor defende que a autoestima sempre está conectada à imagem mental que você tem sobre si, o seu “falso eu”. E como esse “falso eu” é uma ideia, a autoestima depende muito do diálogo que você mantém consigo mesmo, que depende da reação externa, do ambiente em que você vive e como você se percebe nele. Para avaliar como você está, você vive se comparando com outras pessoas. “Por exemplo, se me percebo mais atraente que o fulano, se meu carro é mais bonito e maior do que o do fulano, minha autoestima sobe, mas isso só vai durar até aparecer outro com mais que eu”, comenta.
Diante disso, o autor levanta um questionamento. “É possível viver sem ter um relacionamento consigo mesmo? Ser você de um modo tão completo que a imagem mental, o ‘falso eu’ se dissolva? Viver de tal modo que você apenas seja, sem essa insanidade mental que cria tanto sofrimento, tanta confusão, tanta frustração, tanto medo, tanta insegurança e tanta insanidade?” A resposta, segundo Petry, é sim, é possível. “Mas é preciso parar de querer aprimorar a falsa noção de eu que temos sobre nós, e nos reconectar com quem somos verdadeiramente, para além de tudo que pensamos sobre nós. E esse é o verdadeiro autoconhecimento.”, conclui.