Turismo é uma das atividades com maior capacidade de proteção da natureza
A conservação da natureza tem enorme potencial de desenvolvimento socioeconômico, sendo o turismo uma das atividades com maior capacidade de proteção ao meio ambiente e geração de renda e empregos. Ao atrair pessoas para conhecerem, de maneira responsável, paisagens e belezas naturais do país, o setor – um dos mais impactados pela pandemia de Covid-19 – mostra que é possível unir esses dois pontos. Uma das opções de turismo mais promissoras e seguras para este momento em que se deve evitar aglomerações é o turismo em áreas naturais. O Dia Nacional do Turismo Ecológico, celebrado nesta segunda-feira (1º de março), foi instituído justamente para incentivar a conexão entre as pessoas e a natureza, além de promover a consciência ambiental e a importância da preservação da fauna e da flora.
“A busca por contato com a natureza e a visitação de espaços naturais sempre foi de grande importância para a humanidade. A indústria do turismo busca se apropriar do desejo humano de contato com paisagens extraordinárias e, em última análise, com a natureza, como motor econômico. A forma que esta exploração econômica se dá é determinante para a sustentabilidade das próprias paisagens e atributos naturais”, afirma o professor do Instituto de Biociências da Unirio e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), Carlos Augusto Figueiredo.
Segundo dados da Confederação Nacional de Comércio, Serviços, Bens e Turismo (CNC), o segmento do turismo é responsável por mais de 3,5% do Produto Interno Bruno (PIB) do Brasil e, entre março e dezembro de 2020, por conta da pandemia, acumulou prejuízo de R$ 261,3 bilhões.
Por ser uma das principais atividades da economia brasileira, o investimento em políticas públicas para a conservação da natureza é essencial, somada à conscientização da população para que a atividade não seja predatória e continue gerando renda de forma sustentável para as comunidades locais. “O turismo ecológico é uma atividade que propicia aliar conservação de biodiversidade com a promoção de atividades socioeconômicas, fomentando ainda o bem-estar das pessoas e a saúde do ambiente”, exalta o professor titular do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP) e também membro da RECN, Jean Paul Metzger.
“A natureza cada vez mais estará no centro da atividade turística. O longo período de isolamento social provocado pela pandemia tem realçado a importância de valorizarmos e protegermos nossos ambientes naturais, que têm um papel importantíssimo para o bem-estar e a saúde das pessoas. O turismo em áreas naturais está entre as experiências que mais trazem segurança ao viajante neste cenário de Covid-19. São espaços abertos, com opções perto de casa e custos adaptáveis a diversos bolsos”, explica o gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Emerson Oliveira, ressaltando que qualquer atividade turística exige cuidados individuais para evitar aglomerações e deve respeitar as recomendações das autoridades.
Neste contexto, não faltam lugares para serem conhecidos no Brasil. Fernando de Noronha (PE), Chapada dos Guimarães (MT), Bonito (MS), Chapada Diamantina (BA), Chapada dos Veadeiros (GO), Lençóis Maranhenses (MA), Jalapão (TO), Cataratas do Iguaçu e a Reserva Natural Salto Morato (PR) e Brotas (SP) são algumas das opções para respirar ar puro e entrar em contato com ambientes de belezas espetaculares.
Inovação
Propostas de roteiros e experiências que aliam conservação, turismo responsável e fortalecimento das populações locais estão atraindo cada vez mais o interesse dos viajantes. Em busca de soluções para incentivar o turismo de natureza e promover a proteção do meio ambiente, a Fundação Grupo Boticário selecionou, em 2020, projetos inovadores para receber apoio financeiro e serem desenvolvidos a partir deste ano. As iniciativas, descritas a seguir, são escalonáveis e com capacidade de serem replicadas em todo o país.
O eTrilhas é uma plataforma digital que permite a conexão entre três vetores das trilhas ecológicas: as unidades de conservação, o visitante e a cadeia produtiva do entorno, potencializando uma relação de consumo sustentável entre eles. A ferramenta pode ser customizada para diferentes áreas geográficas e unidades de conservação e seu gerenciamento é realizado de forma descentralizada, garantindo escalabilidade global à solução. Nessa linha, a plataforma espera engajar o público na visitação de trilhas ecológicas em todo o Brasil e conscientizar os praticantes sobre a importância da preservação. Ao dar mais visibilidade para a prática, o eTrilhas também ampliará o alcance dos prestadores de serviços locais, criando um ciclo virtuoso de preservação ambiental e geração de renda.
Outro exemplo é o projeto Vivalá, que desde 2017 promove expedições turísticas para unidades de conservação (UCs), com foco na interação com a natureza e com as comunidades locais. A empresa atua com o volunturismo e o turismo de base comunitária, modalidades de visitação responsável em que os viajantes podem contribuir positivamente com as pessoas e as regiões que estão sendo visitadas. Além de atuar como operadora turística, a Vivalá tem um braço de capacitação profissional voltado para micro e pequenos empreendedores locais. O objetivo é que os serviços contratados durante as expedições sejam oferecidos pelas próprias comunidades do entorno das UCs, garantindo emprego e renda por meio da atividade turística sustentável.
O bem-estar também é foco de projetos inovadores nesta área. O e-Natureza, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, tem por objetivo oferecer um conjunto de experiências para promover a saúde e o bem-estar de quem visita áreas naturais e comunidades vizinhas. A iniciativa irá desenvolver um manual de boas práticas para o turismo de bem-estar na natureza, que inclua ações como cursos de formação on-line para gestores de unidades de conservação e profissionais de saúde, além de atividades em campo, como contemplativas, observação de aves e natureza, banhos de floresta e interpretação ambiental. Com isso, espera qualificar, com fundamentação científica, o setor em expansão de turismo de bem-estar na natureza.