5 fatos aleatórios: mas nem tanto!

Para ler ouvindo: Pena – O Teatro Mágico

 

 

Tenho pensado muito, cabeça a milhão. Li em um portal sobre saúde gestacional que são os hormônios da fase. Aí descobri na fala de uma educadora parental que eles também podem ser chamados de demônios (choque) numa face quase oculta da gravidez. Brincadeiras à parte (ou não), tento respirar profundamente. Tem dias que me sinto com a força e determinação de uma leoa. Já noutros, é a lerdeza de um bicho-preguiça que assume o protagonismo. Diariamente, reflito sobre o futuro e busco encontrar paz no caos tentando que a mente não pire e o coração aguente o tranco. Para não variar, seguem uns devaneios embasados e vivenciados que desafiam a bipolaridade e confundem a razão.

1. Começo pedindo perdão aos artistas de verdade, porque ao falar sobre o tema hype do momento, a tal “cultura” do cancelamento, me sinto cometendo uma heresia. Diferentemente das variadas formas de expressão que nosso vasto país possui, carregadas de sentidos múltiplos que dão identidade a quem as compartilha, o fenômeno que assistimos atualmente está mais para show dos horrores. Agressão e falta de educação viraram sinônimos de liberdade de expressão. Segundo intelectuais e pesquisadores, chamar de sadismo punitivo coletivo é mais apropriado – ainda mais em se tratando de redes sociais (sem o portão, no caso a tela, o cachorro costuma latir manso). Misteriosamente, a cada clique ou tweet uma máscara de proteção contra Covid-19 vai parar no queixo. Cancelar a ignorância seria uma boa, mas a galera anda ocupada se aglomerando por aí.

2. Já que não moramos em uma casa com quintal (nosso sonho), pelo menos o apartamento é térreo. Mesmo assim, ainda tenho certo receio do dia em que a família de toupeiras que podem por ventura morar aqui embaixo protocolem uma reclamação formal. Eu, definitivamente, não queria ser minha vizinha do andar inferior. Em meio a uma sinfonia de pulos, trotes, jumps, patinhas com unhas afiadas batendo no chão e, de vez em quando, até um patinete fazendo curvas perigosas escrevo esta coluna. Ter ou ser vizinho em meio a uma pandemia, onde as pessoas passaram a ficar mais horas em casa, escancarou a dimensão da complexidade que é viver em condomínio. Enquanto as obras correm soltas, o home office tenta se concentrar. Um a um, os apartamentos do bloco em frente ao meu foram sendo reformados de março de 2020 pra cá, sempre respeitando o timing de que uma reforma haveria de terminar para imediatamente a seguir começar outra (sem dar pausa para o barulho). Cada qual com suas prioridades. A furadeira em meio a aula on-line, o que se pode fazer?

3. Um dos maiores aprendizados que já adquiri como mãe envolve a força dos exemplos. Bons ou maus, as crianças tendem a reproduzir hábitos e costumes que presenciam no meio em que vivem. A lista é vasta, vai da alimentação aos gostos e desejos diários. Até por fim revelar comportamentos, em alguns casos contraditórios, sobre como lidar com o outro e as emoções. Falar gritando, por exemplo, pode até ser um bom catalisador do estresse materno, mas também ensina uma maneira ineficaz e desgastante de se resolver as coisas. O que em se tratando de educar alguém não me parece lá uma boa técnica. Não foi simples ser criança na década de 1980, quando era preciso “engolir o choro”. No entanto, precisamos aprender a nos comunicar não só para talvez derrubar essa barreira chamada internalizar sentimentos (normalmente sentida como uma bola na garganta que quando sai quase altera o equilíbrio do centro da Terra), como para permitir a quem está ao nosso redor fazer o mesmo. Só assim teremos uma sociedade dialógica como precisamos urgentemente.

4. Dá para acreditar que vou dar à luz pela segunda vez em agosto e ainda tenho dúvidas sobre atendimento humanizado, especialmente em hospitais de referência? O nascimento do Pedrinho, em 2014, foi normal, rápido (menos de 5h) e terminou com todos bem, saudáveis e felizes. Porém, detalhes como o primeiro acolhimento hostil ao chegar já com contrações e 4 cm de dilatação, uma tentativa de impedir a entrada do acompanhante (no caso, meu marido e pai do bebê) e pernas amarradas foram sendo assimiladas apenas após a alta. Conto no meu relato de parto que, em meio às dores, precisei conquistar a simpatia da enfermeira que estava meio de mau humor naquela noite em que só eu estava parindo no local. Tirando o fato de não terem me oferecido nada de apoio (quando digo nada é nada mesmo – ninguém me contou, senti na pele), a não ser umas caras de poucos amigos e uma analgesia questionável tendo em vista o ponto do trabalho de parto em que eu já estava (na casa dos 8 cm), superamos. Nenhuma opçãozinha não farmacológica? Não! Nem um banho ou uma caminhada? Sequer! Meses depois me ligaram cobrando o valor da agulha – risos. Profissionais dedicados e empenhados a mudar essa realidade tem me contado sobre as mudanças e avanços no atendimento humanizado, seja no parto normal ou cesárea, e as conquistas nesse sentido em prol das mães e seus bebês. Mesmo assim, minha coluna vertebral sua frio com medo do plantão que me aguarda – vai de um extremo ao outro.

5. O item 4 necessita do espaço do 5: não bastasse o trampo que é pagar por um convênio, admitindo que não confiamos plenamente no SUS para este momento (o que eu gostaria muito que fosse o contrário), existe um mundo maravilhoso chamado contratar por conta uma equipe multidisciplinar que custa exatamente o quanto vale. São valores justíssimos para que o grande dia seja o mais próximo possível do idealizado ou para que mesmo diante de algum problema você possa se sentir devidamente amparada – e não só sistematicamente amparada. Quase como na publicidade. A bem da verdade é que estamos diante de um paradoxo: a cooperativa médica não valoriza, muito menos reconhece; o ministério da saúde nunca nem deve ter ouvido falar. Percebo que determinadas iniciativas partem de indivíduos comprometidos, que fazem a teoria ser vista na prática com primor e independentemente do contexto no qual se encontram (seja público ou privado, cobrando ou não). Para além da sorte ou benção de ter os valores para investimento ou acabar simplesmente me deparando com um desses seres iluminados, fica a prece pela humanização universal quem sabe das mentes de quem resolve trabalhar na área obstétrica. Vale frisar que a rotina de um emprego, por mais dura que seja, não pode (ou não deve) ser comparada ao primeiro grande ápice da trajetória materna. E que coincide com o início da vida de cada um de nós.

Até a próxima!

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