QUARENTENA DIA #339: Tá osso

Para ler ouvindo: A Cura – Lulu Santos

Apesar de vivermos em uma, não sou nada fã de montanha-russa. Hoje, no dia #339 da quarentena – na qual ainda não viajamos para canto algum – sinto que chegamos ao topo e temo pela descida. Nem mesmo seguindo todos os protocolos e tomando todos os cuidados, sequer avançamos mais que o raio de 1 Km da nossa casa (mais que isso, só para consultas médicas e pré-natal). O fato se dá nem totalmente por disciplina e falta de coragem, muito menos se deve apenas à escassez de recursos milimetricamente calculados no período pós-quarentena. A real é que ainda estamos à espera de um milagre que nos salve desse pesadelo chamado termos vacina e estarmos tão tão distantes da vacinação. Oh, céus!

“Precisamos voltar ao normal”, reverbera por aí. A expressão me causa um pouco de urticária, confesso. Não sei vocês, mas tem dias que ainda me sinto em março de 2020, com a curva de casos e mortes por covid na voracidade como a do último boletim. Se não fomos tocados pelo coronavírus, pela tristeza por tantas vítimas tomados estamos, absolutamente. Quase prostrados. Se a crise sanitária tem sido cruel de um ano pra cá, a de ética atingiu seu ápice em 2018 e vem sendo cultivada na base de um passado traumático que quase justifica qualquer erro que venha sendo cometido na atual administração do país. Não há necessidade de fazer melhor, pode-se muito bem descansar na aba dos pecados pelo outro cometido. Se fulano fez, por que beltrano haveria de não poder? Eu, hein.

Educação considerada atividade essencial em pandemia com projeto votado por vereadores atuando remotamente, professores fora da prioridade no Plano Nacional de Imunização, volta às aulas presenciais, o eterno empurra-empurra de responsabilidades na política e esta falsa sensação de normalidade no ar ainda contaminado: no parque, que não é o de diversões, tudo está mais para túnel do terror. Isso que nem vou entrar no mérito dos fura-filas, das injeções de agulhas sem líquido em idosos e do deputado que defende a volta do AI-5. A despeito das famílias que tiveram o auxílio emergencial interrompido e sem previsão de retorno, muitas já passando fome, questiono o prefeito da cidade numa rede social e recebo uma resposta ácida e rebelde. Agora é assim: tem cada vez mais interação e proximidade e menos respeito e prestação de contas. Vocês que lutem, cidadãos!

Perdoem-me o tom pouco amistoso na coluna, mas não me ocorreu mais nada que pudesse escrever desta vez. Minha gravidez segue saudável e feliz; Pedrinho encontrando alegrias nas pequenas coisas do cotidiano e nos dando lições de humanidade a todo instante; o desemprego, um fantasma que passou por aqui e já foi embora há meses, felizmente. Do que eu poderia reclamar, né? É importante não confundirmos briga com luta. Briga tem hora para acabar e luta é para uma vida inteira. Para além dos próprios anseios, essa mania de querer um mundo melhor na perspectiva do todo outra vez. Que insistência!

Não adianta culpar meus hormônios bagunçados devido à gestação. Tô de boa. Mas a nação, definitivamente, não nos ajuda. Podemos até ter encontrado a cura para o vírus, assim como a ciência já fez tantas outras vezes, mas receio não nos livrarmos tão cedo desse mal sistematicamente enraizado lá pelas bandas do planalto e que se reflete, quase registrado em cartório, a cada esquina. E esse sim é um grande e poderoso inimigo coletivo.

Prometo que volto semana que vem com alguma listinha fofa (que eu amo) pra tentar compensar a bad vibe de hoje. Combinado? <3

Até a próxima!

Patricia Pavloski Perez

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