Existe vida real e vida virtual?

Está presente no nosso vocabulário a divisão entre vida real e vida virtual. É fácil para nós colocamos em caixinhas: “esse meu amigo é só virtual”, “é um grupo online, eu não conheço essas pessoas”, e até mesmo os “webnamoros”. Parece que desenhamos uma linha entre o real e o virtual e dividimos nossa experiência em duas categorias. Agora, esquecemos de avisar nossas emoções de que essa linha existe, não é mesmo?

Mesmo que arbitrariamente nossa vida seja dividida entre real e virtual, nossa percepção capta todos os elementos da mesma forma: não importa se o que você viu foi do outro lado da tela ou do outro lado da janela do carro, ou se a pessoa que te xingou estava nos comentários de uma rede social ou na sua frente. Sentimento é sentimento, real ou virtual.

E por que isso é importante? Quando dividimos nossa experiência entre real e virtual, nós tendemos a menosprezar a importância daquilo que é virtual, como se não pudesse nos atingir. Dessa forma, consumimos conteúdos que desencadeiam tantas emoções quanto se estivessem na nossa frente, mas não damos importância para isso, e quando sentimos, atribuímos a outra coisa.

Vamos fazer o seguinte exercício: imagine que todo o conteúdo que você consumiu na internet hoje, tudo o que viu, todas as pessoas com as quais falou, todas as interações que teve, aconteceram na chamada “vida real”. Aquela discussão na sessão de comentários foi uma discussão no ônibus, aquele comentário que fizeram na sua foto foi dito em voz alta, enquanto você passava, e aquelas pessoas com quem você se relacionou estavam todas no mesmo cômodo que você. Imaginou como teria sido seu dia?

A notícia é: emocionalmente, este foi o seu dia. Nossas emoções não são divididas entre reais e virtuais, e tudo é sentido da mesma forma. Esse é um dos motivos pelos quais estamos tão exaustos. A proposta que eu faço é de reflexão sobre como está essa “vida virtual” a partir da compreensão de que tudo o que é vivido ali, é sentido verdadeiramente na “vida real”. Será que você teria ficado no ônibus com a discussão, ou em um cômodo com todas essas pessoas falando? E mais importante, o quanto da sua angústia está relacionada com essa realidade paralela? Partindo dessas respostas podemos iniciar uma jornada de uso mais consciente do que a vida tem a nos oferecer, seja ela real ou virtual. Afinal, a experiência é uma só.

Marjorie Rodrigues Wanderley, psicóloga, professora da Estácio Curitiba, Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Paraná

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