35 VERÕES
A vida nem sempre precisa ser um fardo que carregamos por aí
Para ler ouvindo: Noites de um verão qualquer – Skank
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Oh, sorte! Esta coluna anda metida: no apagar das luzes de 2020, coincidiu com as vésperas de Natal e Ano Novo. Hoje, comemoro meu aniversário! Já são 35 voltas completinhas ao redor do sol. É, agora a coisa ficou séria! Não, pera. Já tô no game da vida adulta há pelo menos 18 anos. Posso dizer que alcancei a maioridade no quesito andar com as próprias pernas. Os passos nem sempre são largos, muitas vezes eles estacionam em algo e ali ficam por semanas, meses, anos… noutras épocas, dou saltos dignos de atletas olímpicos, inclusive batendo recordes. Se acabo por não ganhar medalhas de fato, ao menos consigo subir vários níveis no índice de satisfação pessoal – mais conhecido como aquele quentinho que dá no coração da gente quando estamos felizes e seguras com nossas próprias escolhas.
A programação pode mudar a qualquer momento, assim tratamos de exercitar a capacidade de apreciar o agora. Na ótica da psicanálise, seria algo entre já ter vivido o auge do meu Id e hoje equilibrar, como uma malabarista dos pratos, ego e superego. O que seria, em termos práticos, revezar a maternidade sem deixar que as conexões comigo mesma se percam pelo caminho. Até porque nem todo dia eu sou uma leoa feroz, sensata e imbatível. Minhas costas já doem, por mais que eu me exercite. Deve ser o peso das mil obrigações, da rotina doméstica e da pressão por resultados.
Por essas e outras, tomei uma importante decisão: ficar de boa. Dizer que estou serena soa pouco revolucionário? Pois bem, troquei o perfeccionismo absurdo pela constância e os frutos têm caído aos montes do pé – e como são doces. Tem quem chame de marasmo, eu tomei a liberdade (não sem ousadia) para batizar de existir com muito mais propósito interno. Aquela velha máxima de que para cuidar dos outros precisamos nos cuidar primeiro. Ao invés de abraçar o cronograma, explodir de ansiedade e me odiar por tudo o que não fiz ou não deu tempo (ah, dia, como assim só 24h?), passei a estabelecer metas muito menores do que aquelas que nos autoimpomos e nos sentimos levados a alcançar (especialmente quando vemos os stories dos coleguinhas no Instagram). Tento agir dessa maneira no dia a dia com a sensação de que vou precisar de treino para sempre, mas já consigo proporcionar ao meu cotidiano a incrível sensação de vitória diante das coisas mais simples, como ler em voz alta e colocar um filho para dormir – isso quando não acabo dormindo primeiro, pois agora é o Pedro quem me coloca na cama muitas vezes.
Ao escrever publicamente, estou constantemente me perguntando o objetivo principal de dedicar tempo a isso e em pensar o impacto que causou em quem me lê. Seguindo a lógica, digo sem medo que me realizo e me sinto encorajada a prosseguir ao receber uma única mensagem com o teor: “eu também me sinto ou já me senti assim”. Adoraria ter linhas mais poéticas e quem sabe ensinar muitas coisas, mas por ora a identificação tem sido meu pote de ouro no final do arco-íris. Saber que alguém no planeta, uma pessoa que seja, se viu em algum fragmento dos recortes que divido aqui é, definitivamente, uma alegria. Esse é o melhor presente que tenho recebido desde que passei a ser colunista do Afina Menina.
Apenas SER
Que tal tirarmos uma tarde inteira para concluirmos coisas insignificantes para a humanidade e inversamente fundamentais no pessoal, tais como: o meu jeito preferido de preparar ovos é na versão omelete; posso assistir mil filmes por ano, de diferentes gêneros, e ser impactada por todos, mas no fim das contas são as comédias românticas que mandam no meu catálogo; sempre acordo de bom humor, mas adoraria não ter que levantar cedo da cama nunca mais; adoro ir a churrascos regados a cervejinha gelada e conversas engraçadas desde que meu casulo esteja a um passo de distância e eu possa correr para ele ao primeiro sinal de cansaço (ou passado da conta); ter alguém para me resgatar na rua naquela tarde chuvosa é tipo um bálsamo para quem como eu não gosta de dirigir (e nem sabe, apesar de ter CNH – o universo tá me livrando de alguma, eu sinto).
Não gosto de gritar, mas de vez em quando grito; amo ler, literatura infantil é o que temos para o momento; me orgulho de ser jornalista, só descurti o mercado de trabalho e penso seriamente em uma nova profissão; estou viciada em água com gás; não gosto de dormir com luz acesa e nem televisão ligada; tenho pavor de altura; não sei nadar; tenho cozinhado cada vez melhor e adoro; descansar é um ótimo remédio, assim como um bom banho; quando tudo parece perdido, eu brinco com meu filho; se estou nervosa e sem paciência, evito tomar decisões ou falar qualquer coisa até me acalmar (não fosse o Whatsapp).
Ainda me sinto um petit gateau quando está próximo da hora de reencontrar meu marido (me derretendo por dentro); correr é a melhor atividade física que existe e nem tente me convencer do contrário; felicidade é estar ao ar livre e poder respirar sem medo; ter adotado uma vira-latinha caramelo numa fase terrível foi tipo uma cura que se estende até agora; quero reformar a casa; tenho pavor só de pensar em reforma; se eu tivesse um quintal tava lá fora agora; amo olhar para o céu e desconfio que logo depois do horizonte é onde mora o começo de tudo.
E na sua lista, o que vem à cabeça sem que precise pensar muito quando o assunto é a simplicidade de basicamente ser quem se é, na mais pura essência?
Para além dos posicionamentos intensos e profundos e das pautas urgentes e importantes, as quais faço questão de defender e deixar claro por onde passo, no meu aniversário me darei um tempo. Sim, neste 14 de janeiro de 2021 não quero saber de mais nada. Não interessa, gostem ou não, a decisão está tomada: estou oficialmente em day off. Vou apenas comer bolo de morango e chocolate branco, salgadinhos de festa e celebrar minha passagem por este plano cantando ao lado da minha pequena grande família. Essa força motriz capaz de me dar ânimo e coragem para fazer o impossível… mas desde que só amanhã. Vou nessa – me desejem parabéns, eu amo.
Até a próxima!