Covid, vacina e medo: como lidar com os pensamentos intrusivos

A vacina contra o coronavírus deveria ser um alívio para todo mundo. Mas não é. Por incrível que pareça, ela tem gerado receios de todos os tipos. Segundo Elaine Di Sarno, psicóloga especialista em neuropsicologia e em terapia cognitiva-comportamental pelo IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), uma das explicações são os chamados pensamentos intrusivos.
Segundo ela, quem tem esses pensamentos constrói cenários imaginários e passa a reproduzir mentalmente as preocupações ou ideias que podem ou não se manifestar. “Os pensamentos intrusivos atropelam a mente de forma incontrolável, dominando indesejavelmente nossa consciência de maneira insistente e repetitiva, e a estranheza das ideias acabam potencializando medos, ansiedade e alterando nosso estado emocional, especialmente nos últimos tempos”, explica Elaine.

Medo do desconhecido

Um estudo recente feito pela Faculdade São Leopoldo Mandic, em parceria com a London School of Hygiene and Tropical Medicine, mostrou que dentre os 1000 voluntários, 4,5% dos pais se recusam a vacinar suas crianças, e outros 16,5% têm receio ou não acham que isso tenha qualquer importância para a saúde de seus filhos.
“Podemos entender o medo como um sentimento de insegurança. No caso da vacina contra a covid-19, muitas pessoas estão receosas por se tratar de uma medicação importada, nova, cujos efeitos ainda são desconhecidos. Diante da incerteza gerada por esse tipo de emergência sanitária e de reordenamento social, muitos indivíduos acabam se recusando à imunização”, diz a psicóloga.
“Normalmente, os pensamentos intrusivos se relacionam com níveis de ansiedade mais elevados. Um dos principais gatilhos é a recorrente sensação de falta de controle sobre uma determinada situação, a exemplo da covid-19 e, agora, da vacina. Quando não sabemos bem o que fazer com estes pensamentos, começamos a dedicar grande parte de nosso tempo a uma série de idealizações, sejam elas boas ou ruins”, pontua Elaine.
Para a especialista, o importante é questionar e reinterpretar os pensamentos intrusivos. “Quem os nutre, costuma sempre esperar que coisas ruins aconteçam, desconfia das pessoas (até mesmo daquelas que são próximas e queridas) e tende a ser inquieto e impaciente. Aceitar que não podemos controlar tudo, muda a forma como lidamos com nossas emoções e como nos comportamos diante das mais adversas situações”.

Quando a intrusão dos pensamentos se torna preocupante

Os pensamentos sugam a energia do indivíduo, causando grande desgaste mental e físico. Pior: o medo pode ganhar uma dimensão muito maior quando é erroneamente avaliado e tido pela pessoa como uma alta probabilidade de acontecer. “Nesse contexto, os transtornos emocionais se tornam ainda mais intensos, evoluindo para quadros mais graves, como depressão ou estresse pós-traumático. Ou seja, a partir do momento em que esses pensamentos passam a condicionar a rotina e prejudicam a qualidade de vida, é preciso buscar apoio profissional”, alerta Elaine Di Sarno.

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