Vida de Quarentenado
Para ler ouvindo: Aquela dos 30 – Sandy
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Oi? Hã? Que dia é hoje? Ah, quarta, claro. Ops, quinta, na realidade. Que diferença faz? Muita! De segunda a sexta, a rotina é frenética: filho, marido, cachorrinha, casa, comida, roupa, trabalho. Sábado e domingo, hum, tudo igual. Trabalho? Como assim, se você está em casa 24h por dia 7 dias da semana? São férias, certo? Não?! Jura? Ah, não acredito…
Aula on-line, como pude me esquecer de você. Era um mistério em março, hoje só exige que eu, a adulta, me controle e tenha bons modos. Filho, já está na hora, vamos colocar o pijama. Pera, você já está de pijama, quis dizer o uniforme. Qualquer roupa serve, mas a com o brasão do colégio espanta um pouco da preguiça. A profe aparece no vídeo e joga a moleza de vez pra escanteio.
Quanto poder que eu admiro e agradeço. Há quem diga que os pais é que estão ensinando os filhos, quanta bobagem. Com todo o respeito, sou só a inspetora do corredor. Tava treinando e correndo direto, quebrei o mindinho do pé direito (contei a saga aqui) e precisei parar. Oh céus, até enxaqueca tive. Depois que você vicia é difícil largar. Falando em largar, tô bebendo menos cerveja e mais água. Por ora, tá ótimo.
A programação pode mudar a qualquer momento e sem aviso prévio. Não é Advento ainda (sou meio ortodoxa nessas coisas), mas já montamos a árvore de Natal. Pensar na data me acalma. O apartamento tá cada vez menor para ficar tanto tempo dentro dele e cada vez maior quando vou limpá-lo. Queria um daqueles aspiradores de pó robô que andam sozinhos pela casa, sugando tudo – incluindo mini brinquedos que depois eu teria que resgatar na alma do aparelho.
Melhor não, pior seria a vira-lata caramelo latindo pra ele. Esquece (na realidade o motivo é por ser caro). Não tem freela, tem mais tempo, mas automaticamente menos dindin. Faz as contas. Nem precisa ser gênio pra concluir. Tem gente que acha fácil, mas isso porque a vida dos outros sempre parece um mar de rosas. Mais bobagem. Falam que existe polarização, que politizaram a pandemia, até a vacina. Eu, como sou careta, fechei com o cientista e o médico. Sua filha está pronta para receber a dose, pode vir de qualquer lugar, só me chamar.
Saímos muito pouco ainda, tenho pavor só de pensar em festa. Nada sério, só sou disciplinada mesmo. Sempre fui. Precisei. A vida nunca foi fácil, agora é mais uma fase desafiadora. Com a diferença que preciso cuidar do desenvolvimento, especialmente emocional, de uma criança. Isso sim é muito sério. Odeio a expressão “mimimi”. Se eu te conheço e a gente se gosta, com certeza aquele teu post com ela me desceu quadrado.
Mas supero no seguinte, que muitas vezes é de uma ex-professora da faculdade ou de alguma amiga feminista, culta e ativista que me inspira (e como me inspiram, nem sei como mensurar). Alívio. O que vou fazer pro almoço hoje? Gosto de cinco cores no prato. Compro orgânicos e tenho uma variedade legal pra escolher. É o meu luxo necessário da vida atualmente.
Todo mundo devia ter acesso, mas não vale a pena sermos tão saudáveis, né, BraZil. Necropolítica. Prometi que não falaria de política esta semana. E que nem pensaria. Falho miseravelmente. Viver é um ato político. Tá, o almoço. Arroz, feijão, carne, legumes, salada. Hum. O guri ama, raspa o prato.
Hoje vamos assistir uma série. Não deu de novo. Se eu não programo, rola. Se eu comento alto, o universo boicota (leiam universo como o canal Cartoon Network). O fim de semana está aí, vamos ali no clube dar um rolezinho. Vive vazio. Quando outra criança se aproxima, precisamos explicar a pandemia, o distanciamento.
Geralmente não tem um adulto responsável por perto. Como é possível, me pergunto. Tudo é possível. Nos afastamos, voltamos pra casa. O Davi, que sai pra trabalhar fora, vai refazer o teste de Covid. Por enquanto, seguimos sem pegar nada. Não é apenas sobre pegar, mas também transmitir. Voltar às aulas, em pleno fim de ano? Cê tá doido. Me pego pensando como vivem, do que se alimentam e porque se reproduzem os usuários da internet que pregam obscurantismo nas redes e são acompanhados por meia dúzia de zumbis, ou melhor, pessoas. 5x5x5 dá um montão. Elegeram até um presidente.
Viram a entrevista do Obama no Bial? Adorei. 2020 tá acabando, o que foi que eu fiz? Muita coisa. Ainda é cedo pra falar, mas sobrevivi. A vida de quarentenado é isso, altos e baixos. Minha família tá bem, isso que importa. Não existe estupro culposo. Tenho horror à saudosismo. Devia acabar a reeleição. Precisamos de alternância de poder.
Amo Emicida. Estou com vontade de comer churrasco. Tenho que terminar La Casa de Papel. Vou comprar um planner 2021. Queremos passar 3 dias na praia. Se vamos ou não, sei lá. A ideia em si me anima e relaxa. Surtar não adianta, mas tem dias que nem Freud explicaria. Noutros, a paz reina. Nesse balanço, seguimos. É a vida, saca. Saquei. Hoje tem macarrão à bolonhesa. Mais uma coluna também. Meus colegas, amigos e familiares estão curtindo, me contam. Bom, pelo menos os 0,001% que leem. Gostam quando eu falo que exclui os fantasmas da minha lista de contatos do face, quase 100 curtidas. Aiai, somos um verdadeiro experimento. Passaram aproximadamente cinco minutos de pensamentos. Tô cansada, mas tô viva.
Até a próxima!
Patricia Pavloski Perez