Como falar sobre morte com crianças em tempos de pandemia
A chegada da COVID-19 trouxe ainda mais dificuldade para lidar com o tabu da morte. O isolamento social e a falta de rituais de despedida são complicadores para a vivência do luto em tempos de pandemia. O quadro se agrava ainda mais quando é preciso falar sobre morte com as crianças. Nos últimos meses, milhares delas perderam mães, pais, avós ou até outros parentes e pessoas próximas e queridas. Muitas vezes, na tentativa de protege-las do sofrimento, alguns adultos evitam falar com as crianças sobre o assunto. Mas essa não é a melhor estratégia, de acordo com o psicólogo do Hospital Pequeno Príncipe, Bruno Mäder.
Não falar sobre a morte por pode trazer complicadores para a vida adulta. Abrir espaço para o diálogo é uma forma de processar o luto de maneira um pouco mais confortável, especialmente na infância. Essa é uma conversa que muda com a idade e com a compreensão da criança, mas é preciso lembrar que a partir de dois anos ela vai entender que algo aconteceu e que isso precisará ser processado.
Ao conversar com a criança, é importante ser franco, dizer que a pessoa não vai voltar mais e depois ouvir o que ela tem que a dizer. O psicólogo explica que na infância o luto vai aparecer durante as brincadeiras e desenhos e os pais ou responsáveis podem aproveitar esses momentos para se aproximar e deixar a criança falar. Como em alguns casos, as crianças não sabem explicar o que estão sentindo é importante mostrar que tudo bem ela ficar triste e chorar. Para ajudar nesse processo de elaboração dos sentimentos, o adulto também pode propor pensar junto com ela uma homenagem para o ente querido. No caso de uma criança muito pequena, outra opção é utilizar livros infantis ou desenhos que falem sobre a perda. Ainda de acordo com Bruno, a família também pode utilizar de suas crenças religiosas ou valores para explica a morte à uma criança.
Também é natural que a criança apresente mudanças de comportamento por conta do luto. Mesmo sem conseguir se expressar por palavras, ela pode apresentar reações como ficar mais distante, por exemplo. Os responsáveis só precisam estar alerta em relação a intensidade e o tempo de duração dessa mudança.
O psicólogo explica que o luto nada mais é do que um processo natural de elaboração da perda e que nem sempre se refere à morte de uma pessoa amada, mas pode estar relacionado a algumas de mudança na vida, como deixar um emprego ou ficar longe dos amigos, por exemplo. Alterações como essas podem gerar, segundo ele, uma sensação de luto e exigir a elaboração daquilo que não vai voltar mais. E com a criança isso não é diferente, mas o importante ter em mente que ela estará exposta a perda desde cedo. Mesmo sem uma experiência tão trágica, ela vai se perguntar sobre isso durante a infância e por isso, é um engano proteger a criança demasiadamente sobre o assunto.