Quem tem um professor tem tudo

Para ler ouvindo: We’re Going To Be Friends – The White Stripes (também tem a versão na voz do Jack Johnson)

Esta semana, comemoramos o Dia dos Professores. Como profunda admiradora desses profissionais que, pra mim, são os verdadeiros heróis da nação, prestei emocionada as devidas homenagens de que fui capaz. Sim, eu me emociono todos os anos ao falar dos mestres que passaram pela minha vida e a transformaram completamente pra melhor. Assim como diz uma tirinha do Charlie Brown (de Schulz, não a banda) que vi no Facebook por ocasião da data, eu evito idolatrar professores, apenas seria capaz de beijar o chão que eles pisam. 

Sigo mais encantada do que nunca, pois tenho o privilégio de acompanhar de perto (em 2020, muito de perto) o desenrolar da trajetória escolar do meu filho – que começou em 2016 e atualmente está em fase de alfabetização. Observo com devoção toda a competência, amor e comprometimento de quem está na linha de frente da educação infantil – mais forte, reinventada e capaz – enquanto atravessamos uma pandemia e o homeschooling forçado já dura 8 meses. Sério, profes, vocês são demais!

Para além de agradecimentos e postagens, deixo aqui registrado meu compromisso de fiscalizar e cobrar não só o poder público, como a instituição privada na qual meu menino estuda. No meu entendimento, é fundamental saber como o corpo docente é tratado e quais iniciativas de valorização e capacitação existem e são cumpridas em prol daqueles que estão, dia após dia, preenchendo o currículo escolar de um cidadão em franca formação.

Isso tudo já que não posso alterar a Constituição e publicar amanhã mesmo no Diário Oficial da União um decreto que prevê grande aumento de salário à categoria. Tiraria do orçamento destinado a políticos, juntamente com  benefícios que alguns parlamentares acumulam sem merecimento. Nada pessoal, galera do Planalto, mas eu tenho predileção por quem estuda, por quem inspira, por quem valoriza o ensino e, consequentemente, transforma pessoas que transformam o mundo (Viva Paulo Freire!). Por falar nisso, fica a dica: votar em quem defende a EDUCAÇÃO e a CIÊNCIA pode ser uma boa para quem pensa nos habitantes deste mundão lá na frente.

Dito tudo isso, me pego pensando no atual momento em que vivemos, a maior parte da rotina em casa e pra quem tem filhos em idade escolar, com aulas on-line. De alunos e pais que levavam e buscavam as crias no portão do colégio, viramos uma espécie de tutores, se for pra chamar de algo mais engrandecedor, ou meros apertadores de botão liga-desliga áudio. Realidade que para muitos de nós tem sido uma árdua batalha transmitida ao vivo para espectadores, em sua maioria, desconhecidos (os coleguinhas conviviam, as famílias não necessariamente). É sempre bom lembrar que estamos sendo assistidos enquanto assistimos… ajuda a segurar a onda.

No período atual, os guerreiros que trocaram o giz pelo mouse lidam com questões mais amplamente complexas e, digamos, até constrangedoras. É um tal de palavrão ao fundo para ~contribuir~ com o som ambiente da aula; esquecer de desligar o microfone enquanto fala ao telefone e atende o interfone; de adultos educados que prezam pelas boas maneiras dos pequenos interrompendo a fala da professora e/ou de seres com 6 anos de idade (às vezes, no meio da formulação de pensamentos e contribuições importantes). Tudo muito normal e aceitável na convenção das pessoas maduras, esclarecidas e ocupadas. Algumas regras de ouro valem para todos, mas os alecrins dourados não entram na categoria “todos”, estou sabendo. Essa coisa de ter que se organizar, planejar, ter disciplina e fazer escolhas e renúncias é prerrogativa dos não tão evoluídos como eu e você que se identificou.

Tem uma pontinha de mim que se contorce em ataque de pelanca toda vez que preciso ser firme e rígida para que as mil distrações do ambiente e a preguiça não sejam uma constante no comportamento do meu herdeiro em frente à tela. Mas preciso salientar meu esforço para estar ali com ele por inteira, lidando com envolvimento e leveza. Juntos eu e meu filho somos muito mais fortes! Com isso, tem sido extremamente produtivo na maioria das vezes. Respeitoso com todos os envolvidos. Não por acaso, o baixinho aprendeu a ler em meio ao ano mais caótico da vida dele até hoje (e espero que único).

Antes que falem, “ah, mas isso de acompanhar é privilégio para quem tem tempo e dinheiro”. Como só ando com tempo, justifico o restante da história contando que felizmente tenho a sorte do comércio aqui do bairro aceitar dinheirinho do Banco Imobiliário. Quem já jogou sabe que vem uma quantidade ótima de notas de R$200. Não estão nem percebendo a falta do lobo-guará. Geralmente pagamos um alto preço pelas concessões que fazemos, porém todas as que envolvem acumular o legado imaterial chamado conhecimento eu pago sem choro.  Desconfio que o pai que pedala 28km todos os dias pra buscar as atividades escolares ou o que montou uma barraca no meio da lavoura para captar melhor o sinal da internet estão diante de cobranças muito maiores.

Voltando ao que realmente me trouxe aqui esta semana, digo que se for pra defender com unhas e dentes um time, um candidato (eca), um movimento, enfim, como tem sido feito indiscriminadamente nas redes sociais, talvez seja muito mais útil e digno fazer isso por um professor. Na pior das hipóteses, ele estará ali para nos ajudar a sermos mais inteligentes, éticos e, sobretudo, humanos.

Até a próxima!

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