Impactada pelo Dilema

Para ler ouvindo: Pequenas Alegrias da Vida Adulta – Emicida (part. Marcos Valle)

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De uns dias pra cá, muito se falou a respeito do documentário no qual especialistas em tecnologia e profissionais da área alertam sobre o uso excessivo das redes sociais. Na realidade, vai muito além disso: os caras jogam luz sobre o impacto devastador que elas podem ter sobre a democracia e a humanidade. Não sei vocês, mas sinto um arrepio gelado que petrifica a coluna vertebral ao ler essa última frase – com créditos à plataforma de streaming (um tanto quanto alarmista, óbvio) que produziu e exibe a obra.

 

 

Resolvi usar menções a emojis na coluna de hoje, não sei exatamente o motivo (!). Arrisco dizer que deve ser porque sou uma entusiasta do poder prático do social media, terreno no qual passeio desde 2004, ainda no saudoso Orkut. Antes disso, meu Gmail já dava sinais claros de que eu, definitivamente, seria uma das milhões de pessoas que jamais desconfiaria onde tudo isso poderia chegar. Quando disponibilizaram temas para a Caixa de Entrada eu soube que esse casamento sim, jamais terminaria. Ah, o meu layout é da Girafa no ponto de ônibus há anos. Gênios!

 

 

Teve muita diversão, beleza, conhecimento e baixa/alta autoestima adquirida frente à tela. Amigos do tempo da escola reencontrados, ciúmes e auês. Posso dizer que até algum dinheiro ganhei, pois como jornalista bati cartão como redatora em agências de publicidade produzindo posts. Ou seja, mesmo que microscopicamente, até eu já lucrei com essa indústria (risos). Entender um pouco do caminho que venho trilhando nesse universo me ajuda a organizar as ideias e a visualizar o que me trouxe até aqui.

 

 

 

Só que agora eu sou mãe, né?! E a conta disso tudo (assistam pra saber, mas é tipo um cartão de crédito com limite milhões de vezes maior que o orçamento) virá na fatura do meu filho. Sobretudo do ponto de vista psicológico. Preocupação que ainda pode me tirar o sono. Digo ainda, pois com 6 anos o bichinho não possui nenhum perfil, a não ser o login dos joguinhos que não-tinha-como-evitar (até tinha). Não vou ser hipócrita e dizer que ele nunca terá vida on-line, pois não serei a única a influenciar o comportamento dele para sempre. Até hoje conseguimos, eu e meu marido, blindar uma coisa ou outra, só que temos plena consciência do mundo em que vivemos. Não demasiadamente animados, mas conscientes. Esperançosos de que saberemos definir quando será a hora de falar sobre isso com o guri (novo desafio dos pais da geração Y). Bom, deve ter um tutorial no Google… que eu espero não precisar.

 

 

Já existem muitos artigos a respeito do assunto com o objetivo de ajudar pais e famílias a lidarem com as infinitas questões envolvendo a INTERNET (adoro falar “internet” como quem se refere a tudo que há no ciberespaço). Os próprios cavaleiros do apocalipse enumeram, ao final do documentário, algumas atitudes que podem aliviar um pouco de toda essa tensão, sendo a última delas sair correndo três dias sem olhar pra trás não sem antes deletar todo seu rastro virtual. E, consequentemente, virar um ermitão (zoera vs não muito).

 

 

O foco, tenho pra mim, terá que partir daqui de dentro. Não do meu âmago, que terminou de ver a parada, ficou ansioso e logo tratou de ir comentar no Facebook. Apesar de não confiar nadinha em quem, por ventura, conseguir assistir e virar o jogo automaticamente em seguida. Não é a cervejinha do final de semana, mas um entorpecente pesado. A bem da verdade, é fato de que há alguns meses, antes mesmo da pandemia, tratei de desativar todas as notificações do celular. Sigo no dilema em se tratando do app de delivery de comida por motivos autoexplicativos. Também não participo de grupos de WhatsApp. No começo doeu na minha alma pensar que alguém poderia estar falando sobre mim ou compartilhando ideias que poderiam mudar a minha vida, mas logo passou. Sobrevivi.

Tento, assim, usar menos a bagaça, mas receio falhar miseravelmente no meu tratamento antidoping. Afirmo na perspectiva do exagero por ter sérias pretensões de aumentar o uso das ferramentas que possam me devolver o controle e diminuir minha dependência (elas existem, só que dá um trabalhinho correr atrás). Definitivamente, mostrar quem manda. Consigo até ver uma pequena mudança de foco, isso é real: menos postagens e mais séries nas plataformas que assino… espertinhos! No mais, sem falácias, cultuo certos rituais sagrados que podem parecer estranhos a uma parcela da população: não uso, sob nenhuma circunstância, o smartphone durante as refeições; evito veementemente fazer dos meus perfis o divã do terapeuta (nem a tábua de salvação para qualquer tema); só aceito amizades de pessoas que conheço (e algumas marcas são colocadas na lista de restritos a certas publicações (como fotos de família); deixo a selfie para quando o exercício termina (ou registro a cara de bolacha antes, durante jamais); e finalmente, não volto para buscar o celular caso o esqueça em casa.

 

 

Esta coluna tem por essência a maternidade, mas não se limita a ela. Isso se comprova facilmente, afinal de contas, eu não sou só mãe. Todos os meus papéis cotidianos influenciam minha própria trajetória e refletem diretamente na formação do serzinho fofo que acaba de perder seu primeiro dentinho. Falando nisso, a fada do dente veio visitá-lo e ele não teve dúvidas de que isso aconteceu de verdade. E quem apostaria que não? O que quero dizer é que quem somos, e no que acreditamos, tem poder igualmente capaz de influenciar e empoderar, de apoiar e encorajar, de inspirar. Isso o algoritmo não nos tirou (pelo menos por enquanto, não).

Como bem disse o escritor Peter Handke:

“Daquilo de que os outros não sabem sobre mim, disso eu vivo”.

Em termos práticos, bastaria acessarmos o modo analógico de vez em quando/sempre. Se eu ficar olhando para uma tela o dia inteiro, como vou querer poupar a geração que cresce aqui sob meus olhos ocupados? Ou melhor dizendo, que moral terei para falar sobre equilíbrio com ela? Não é uma simples reflexão, pelo contrário, dá um nó internacional na cabeça. Corporativamente falando, dá prejuízo. Porém, admitir os riscos e consequências antes de tomar qualquer decisão tira o piano das costas. Portanto, apenas proponho curtir um pouco menos na base dos likes e pegar uma estrada (que por enquanto pode ser num bom livro) trocando a egotrip pelo modo off pra variar. Achou fácil? E se eu sugerir não postar em tempo real?

Por ora, é o que a gente dá conta.

Até a próxima!

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