Na velocidade da luz

Para ler ouvindo: Meu abrigo – Melim 

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Como vocês sabem, a razão de ser deste espaço e dele se chamar “Mãe com Wi-Fi” tem seis aninhos, está em fase de alfabetização e ainda vê o mundo com olhinhos coloridos, imaginativos e de esperança. Ah, e está em quarentena há mais de seis meses, sem ir à escola e aproveitar o ar livre, como toda criança precisa e merece. Porém, para o Pedro nada é tão complicado, nem tampouco só triste. O bichinho definitivamente consegue equilibrar a balança quando o assunto é desfrutar o milagre de viver. Faz isso instintivamente – às vezes, no extremo da expressão.

Trata-se de uma excelente fonte de folêgo diário. Pra quem não pratica atividade física esta analogia vai parecer meio estranha, mas resume bem a rotina com uma criança em casa (ou mais, vai que você está correndo uma maratona aí): à beira do abismo da exaustão, encontramos forças no âmago para executar a missão da melhor maneira, melhorando um pouco mais a cada dia. Sempre evitando ferrar a lombar – seja no exercício ou resgatando o Batman que está, estrategicamente, no minúsculo espaço entre a parede e o guarda-roupa. Um cantinho que só a física explica como os brinquedos podem parar ali e que me dá calafrios por, possivelmente, me levar à Nárnia se eu estiver distraída.

Ao final do treino, ou das 24h, a sensação é de esgotamento total (não só a sensação). O grande trunfo é o que sentimos na sequência: uma explosão de endorfina que nos leva a um estado quase que instantâneo de ânimo. Basta agradecer por meu filho, que agora dorme como um anjinho, e se preparar para a próxima. Sempre um pouco mais forte. Ninguém disse que seria fácil, apenas que valeria a pena. E vale!

Quando amanhece, um furacão de disposição – que vai pegando no tranco aos poucos até atingir 300km/h – ilumina, agita, bagunça, dá sentido à casa (e à vida). Não quer nem saber do check list do home office ou outros afazeres. Numa hora entende, noutra contesta. Saudável que é, concilia a infância com a pressão do isolamento social tentando compreender a passagem das horas que parece ter ficado mais lenta de março pra cá. Total ausência de outros da mesma idade para brincar. Cabe a mim explicar, acolher, educar. Principalmente, acolher. Se o ninho vazio chega para todos os pais (o que é ótimo, pois tudo o que uma mãe quer é um filho realizado e ganhando o mundo), hoje faço questão de ninar meu passarinho completamente debaixo das minhas asas.

Qual é o passarinho mais veloz que existe na natureza mesmo?

Não por acaso, recentemente aumentei a vasta lista de apelidos fofos e amorosos que eu o chamo desde seu nascimento. Só que o do momento é, digamos, um tanto quanto mais prático e literal: mil graus. É perfeito! Podem imaginar? Qualquer hora dessas vou colocar um monitor de atividade no pulso dele e desconfio seriamente de que, no mínimo, vai ter pace para correr 5k mais rápido do que eu venho tentando há três anos. De quebra, entrará para o livro dos recordes pelo feito realizado no corredor de um apartamento.

Boa parte do tempo, eu tento controlar meu ímpeto de talhar essa energia que pulsa mais rápido que um trem bala. No que sobra, eu respiro fundo e peço com firmeza que ele desacelere. Tipo no meio da aula, durante as refeições ou depois das 22h – evitando que o vizinho soque a parede. Receio ter alguns sucessos. Várias frustrações. Segue o baile. Diante do colapso, me isolo um pouco. O que eu evito, a todo custo, é surtar e querer que ele seja calmo. A conta simplesmente não fecha. Desse mal eu tento me livrar a cada respirada e ao longo dessa pandemia estou quase PhD – de eterna tentante.

Me encontro no processo de romper com teorias ultrapassadas. Pude sentir um pouco na pele durante a infância e, infelizmente, ainda ouço algum saudosista com histórico suspeito (pra dizer o mínimo) defendendo formas de criação atualmente indefensáveis (a não ser que você ainda anda de carroça e cavalo por opção e seja antivacina, nesse caso pule). Se nós, adultos, estamos cansados, reclamamos (muito). Mandamos logo um textão no Instagram, uma bela indireta ácida no Facebook ou metemos o louco geral e desativamos o azul das setinhas do Whatsapp. Enfim, apelamos para os vícios da vida moderna que tanto odiamos amar ou amamos odiar… Ouvi dizer que há síndromes de irritação crônica que levam a implicar até com o barulho do companheiro(a) escovando os dentes.

Meu filho quica pela casa. E eu deixo, porque afinal de contas, ele merece extravasar. Ele merece ser criança. Entre o radical e o permissivo, escolhi o caminho do meio. Ele existe, basta abrir o coração para as oportunidades que estão debaixo do nosso nariz e não vemos por causa das tantas ansiedades. O coronavírus deixará muitas marcas, a grande maioria delas repletas de aflições e incertezas. Mas também trouxe duros aprendizados. Ao final, quando abrirmos o baú da memória, eu desejo que o Pedro se recorde disso tudo, desse longo e desafiador período, e pense: fui um menino muito amado e FELIZ!

Até a próxima!

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