Pandemia afasta pacientes de tratamento e aumenta problemas relacionados a doenças mentais

A pandemia está trazendo efeitos devastadores para os pacientes que já sofrem de alguma doença mental. Com medo de contrair o coronavírus, eles se afastaram dos consultórios médicos – e consequentemente – dos tratamentos adequados. A mudança nas regras para prescrição e dispensação de medicamentos controlados também contribuiu para piora de casos, já que os pacientes continuam com acesso aos remédios, mas sem acompanhamento médico.

A falta ou excesso de medicamentos, assim como a interrupção do tratamento psiquiátrico, pode aumentar os casos de tentativa de suicídio. A situação chama atenção principalmente no mês que marca a campanha brasileira de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo. Na Clinica Heidelberg Psiquiatria, de Curitiba, a preocupação é com os pacientes que estão interrompendo o tratamento por conta própria, por conta da recomendação de distanciamento social e do receio de contrair a Covid-19.

“Desde março, quando a pandemia começou, houve uma redução de 30% nos atendimentos e internamentos”, conta Karin Ratzke, diretora administrativa da clínica, que é associada ao Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar) e a Associação dos Hospitais do Paraná (Ahopar).

Ela ressalta que, nos casos de doenças mentais, o acompanhamento médico é essencial. “O paciente já está fragilizado e os efeitos da pandemia podem aumentar ainda mais as crises, por isso o atendimento com o médico especializado não pode deixar de ser realizado”, ressalta Karin.

Para ela, um paciente que já tem sintomas de depressão ou outras doenças pode ter o quadro agravado ficando isolado na mesma casa com quem tem problemas de relacionamentos, por exemplo. Além disso, a situação econômica pode interferir consideravelmente “Muita gente está precisando se reinventar em suas profissões, mas para quem tem depressão isso fica mais difícil sem o acompanhamento adequado”, considera.

Atenção aos sinais

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em escala global, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% nos últimos 10 anos. São 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população do planeta. Na América Latina, o Brasil é o país mais ansioso e estressado. Cerca de 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão, e 9,3%, de ansiedade.

E os números podem aumentar ainda mais por conta da situação atípica de crise que estamos vivendo. Principalmente em meio à pandemia, é importante que os familiares, amigos e – caso tenha condições – a própria pessoa preste atenção aos sinais de que a saúde mental não vai bem. Quem alerta é o médico psiquiatra professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor clínico da Clinica Heidelberg Roberto Ratzke.

Ele ressalta a importância de procurar apoio, mesmo que seja por meio da telemedicina, ao sentir sintomas como insônia, ansiedade, tensão e aumento ou perda demasiada de apetite, por exemplo. “Se a pessoa está com dificuldade de se organizar, não consegue relaxar ou se concentrar já é um sinal de que precisa de ajuda”, revela, citando também os casos mais graves, como depressão aguda e esquizofrenia.

Para esses pacientes, que já tomam remédio e estão adiando a sua ida ao médico por conta da pandemia, os efeitos da ausência de acompanhamento médico podem ser ainda mais nocivos. “E podem colocar em riso a própria pessoa, seus familiares e amigos”, alerta o psiquiatra.

A indicação é não tomar remédio por conta própria, principalmente os psicotrópicos, e ficar atento à dosagem. “Com a possibilidade de estender por até três meses a compra dos remédios controlados com a mesma receita ou de conseguir as receitas por Whatsapp, por exemplo, muitos pacientes têm acesso a altas dosagens, o que pode desencadear e facilitar as tentativas de suicídio”, reforça Ratzke.

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