Evitando as consultas, pacientes aumentam o consumo de anti-inflamatórios

O Brasil é conhecidamente um dos países onde mais acontece a automedicação e em tempos da COVID-19, essa prática está cada vez mais comum, já que os pacientes estão ‘fugindo’ das consultas e hospitais. Os anti-inflamatórios estão entre os remédios, mais utilizados no mundo e são facilmente comprados sem receita médica, causando um abuso destas medicações, principalmente no meio esportivo. “Este abuso se justifica pela compreensão popular de que a inflamação é algo ruim e não desejável. Tentaremos mostrar aqui que este conceito, na maior parte das ocasiões, está errado. A inflamação tem um papel fundamental para o atleta, seja ele amador ou não”, explica o especialista em joelho e médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, Dr. João Hollanda.

O abuso dos anti-inflamatórios, além de provocar os diversos efeitos colaterais amplamente conhecidos destas medicações, incluindo problemas gastrointestinais, renais e cardiovasculares, pode levar também a uma pior recuperação pós treino e, em última análise, a piora no desempenho e maior risco de lesões.

Qual a importância da inflamação para o atleta?

Ao realizarmos uma atividade física, o exercício provoca micro lesões na musculatura. Estas lesões desencadeiam uma resposta inflamatória local, fundamental para que a musculatura se recupere. Este processo de lesão e recuperação é que faz com que o músculo fique gradativamente maior e mais forte.

Se, por um lado, a ausência do processo inflamatório impede que a musculatura se recupere adequadamente após um treino, quando em excesso ela pode provocar um dano secundário às células, em função da produção de radicais livres. “Infelizmente, os limites entre a inflamação considerada normal e esperada e aquela que se torna prejudicial não estão claramente determinados pela ciência. Por isso a importância de sempre passar com um especialista”, afirma Hollanda.

Treinar além da capacidade física (gerando maior nível de inflamação) e depois tomar os anti-inflamatórios levará, por um lado, a uma maior destruição celular e, por outro, a um retardo na recuperação. Os anti-inflamatórios podem trazer algum conforto imediato para o atleta e a preocupação com uma recuperação mais imediata é menor. Nestas situações, os anti-inflamatórios devem ser utilizados por não mais do que 2 a 3 dias, deixando o corpo assumir os mecanismos naturais de cura após este período. “É importante salientarmos esses cuidados, pois com a pandemia tem aumento as lesões de atletas amadores e a automedicação é muito arriscada”, conclui o ortopedista.

Dr. João Hollanda – O Dr. João Hollanda é médico ortopedista especialista em joelho e lesões no esporte e médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Mais informações pelo site: https://ortopedistadojoelho.com.br/

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