Entenda como atuam as manifestações neurológicas em pacientes com Covid-19
Desde o surgimento dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil e no mundo, os cientistas e médicos têm avaliado a relevante incidência de manifestações neurológicas que acometem muitos pacientes.
Segundo o neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dr. Edson Issamu Yokoo, cerca de 50% dos pacientes hospitalizados para tratamento do Covid-19 apresentam algum tipo de sintoma neurológico, que pode ser leve ou grave.
“Ainda não se sabe ao certo se as alterações neurológicas são causadas pela ação direta do vírus ou se são manifestações causadas indiretamente pelo processo inflamatório ou pela resposta imunológica nas células nervosas”, revela o especialista.
As manifestações mais simples, de acordo com o neurologista, se caracterizam por cefaleia, mialgias, tonturas, alterações do olfato (hiposmia ou anosmia) e do paladar (disgeusia). Já casos mais graves revelam alteração do nível de consciência (delírio hipoativo ou hiperativo, estado de coma), crises epilépticas, encefalites e, até mesmo, acidentes vasculares encefálicos.
O médico frisa que diversos estudos estão sendo realizados atualmente para entender o comportamento da doença, a fim de identificar se tais manifestações neurológicas resultam da ação direta do vírus ou se surgem devido a outros distúrbios provocados pelo novo Coronavírus.
“Sabemos que a gravidade dos sintomas surge conforme se agrava também o quadro do paciente com Covid-19 de maneira geral”, destaca.
Para entendermos melhor como funcionam essas manifestações, o Dr. Edson listou alguns dos principais sintomas leves e graves. Confira!
Sintomas neurológicos leves
– Cefaleia
O especialista do São Camilo conta que tem sido observado um aumento no número de pacientes com Covid-19 que buscam atendimento com queixa de dores fortes de cabeça, sintoma que não desaparece apenas com uso de analgésicos comuns.
Embora cause desconforto, o sintoma tende a desaparecer sem maiores complicações. O Dr. Edson explica que a dor da cefaleia pode estar relacionada com o conjunto inflamatório de resposta sistêmica do paciente, que exacerba situações de dor.
– Transtornos do olfato e do paladar
Entre os sintomas que mais têm se avaliado atualmente está a perda parcial ou total do olfato e do paladar.
“Essas manifestações iniciais podem acometer cerca de 80% dos pacientes com Covid-19, muitas vezes acompanhadas por congestão nasal ou ausência de secreções”, destaca.
O especialista comenta que essas alterações neurológicas podem desaparecer dentro de 8 a 20 dias, de acordo com relatos obtidos até o momento. “Já foram relatados alguns casos irreversíveis, no entanto, apenas o acompanhamento médico ao longo do tempo poderá indicar se o problema pode ser revertido”, completa.
Sintomas neurológicos graves
– Encefalopatia
Pesquisas apontam que 66% dos pacientes com síndrome respiratória aguda relacionada ao Covid-19 apresentaram encefalopatia. Segundo o especialista, o diagnóstico tende a ocorrer em pacientes graves, principalmente aqueles que já estão em internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Ele alerta que as causas desta manifestação são multifatoriais. “Alguns estudos mostram que o sintoma costuma obedecer ao padrão das encefalopatias tóxico-metabólicas: podem ser secundárias à diminuição da função de múltiplos órgãos ou por efeitos adversos de medicamentos utilizados em seu tratamento; ou encefalopatias por hipóxia, que ocorrem pela baixa da saturação de oxigênio sanguíneo”, relata.
Além disso, a forma como a encefalopatia se manifesta em cada paciente pode variar entre agitação e quadro de delírio, ou sonolência, com diminuição do nível de consciência.
– Acidente Vascular Encefálico (AVE)
Conforme o neurologista, os estudos publicados sobre a incidência de AVE em pacientes com Covid-19 mostram resultados variados ao redor do mundo. “O que temos observado até o momento é que o sintoma tende a ocorrer entre uma e três semanas após o início dos sintomas de infecção, acometendo pacientes graves”, comenta.
– Síndrome Guilláin-Barré
Essa manifestação se caracteriza pela perda de força e alteração de sensibilidade ascendente e progressiva, que pode acometer até músculos da respiração e nervos cranianos superiores.
Para o Dr. Edson, o surgimento da Síndrome é resultado de uma ação de resposta imunológica inadequada. “Nesses casos, o sistema imunológico, além de atacar o vírus, acaba atacando também as raízes nervosas que saem pela coluna vertebral”, explica.
Embora seja uma manifestação grave, sua incidência é considerada baixa em relação aos demais sintomas associados ao Covid-19. Dados de um levantamento recente realizado na Itália mostrou que de 1.200 pacientes internados, apenas cinco desenvolveram a Síndrome.
O médico destaca ainda a importância de procurar atendimento médico ao identificar qualquer manifestação neurológica como as que ele destacou. “As pesquisas sobre esses sintomas ainda estão em desenvolvimento, portanto, sua extensão e gravidade precisam ser acompanhadas por um especialista”, reforça.
Fonte: Rede Hospitalar São Camilo