A internação é indicada no período de quarentena?

Lidar com saúde mental, durante o período da pandemia, é um desafio grande para a maioria das pessoas. Quem tem um quadro clínico de transtorno ou de dependência química pode apresentar ainda mais dificuldades.

Quando falamos sobre hospitais psiquiátricos, muitos sabem que os cuidados prestados por eles são imprescindíveis. Porém, como fica a questão da internação na quarentena? Há riscos ou regras especiais, se for preciso uma internação para depressão, por exemplo?

Essa dúvida tem sido recorrente, adiando possíveis tratamentos psíquicos. Apesar de haver necessidade de atendimento, o receio da contaminação prevalece. Para entender melhor essa questão, conversamos com a médica Luciana Mancini, clínica-geral no Hospital Santa Mônica. Ela nos contou como tem sido a rotina e os cuidados quando alguém precisa de uma internação na quarentena. Acompanhe o texto!

Como está a internação no cenário atual?

Não podemos prever quando precisaremos de ajuda para algum caso de transtorno ou dependência química, não é mesmo? Contudo, é fato que um apoio profissionalizado, muitas vezes, é a única saída para uma situação. Assim, aguardar muito tempo, preferindo, por exemplo, uma internação nas férias ou quando a pandemia passar, pode ser tarde.

Os jovens são os que mais têm sofrido com essas imposições pelo coronavírus, pois, de uma hora para outra, foram obrigados a se afastar das amizades, relações consideradas fundamentais nessa fase. Por isso, uma internação de adolescentes deve ser considerada, caso apresentem grandes alterações de comportamento.

E quem se sente infortunado por estar passando por uma dificuldade dessas, logo na quarentena, pode ficar sossegado, pois é exatamente por estarmos nessas condições que essas urgências aparecem: “As pessoas estão mais isoladas”, comenta Luciana Mancini. “Muitas não podem trabalhar. Algumas mães têm ficado mais em casa com as crianças. Tem sido até difícil conseguir consultas médicas e tratamentos, já que a maioria dos lugares só tem atendido emergências”, completa.

Quais são os cuidados que estão sendo tomados?

A médica conta que o Hospital Santa Mônica tem seguido o protocolo recomendado pelas grandes autoridades em saúde. Há a preocupação com o novo paciente, mas também o cuidado com aqueles já internados e toda a equipe de funcionários. Além do mais, a pessoa recebe o máximo de atenção, independentemente do diagnóstico. Apesar de uma restrição nos primeiros dias, o paciente não fica apenas dentro de um quarto pequeno.

“Quando um novo paciente chega, fica em uma ala de isolamento por 7 dias, em observação. Nesse período, é examinado, para analisarmos a presença de sintomas. Contudo, toda essa restrição não é feita apenas no quarto. Damos acesso a uma área, que permite à pessoa caminhar e tomar um sol. Também temos um posto de enfermagem, caso seja necessário. Nesse estágio inicial, apenas evitamos o contato com os demais pacientes, já que, mesmo não havendo sintomas presentes, é possível haver infecção”.

Então, após uma semana, as restrições diminuem, já que convívio social é um dos quesitos importantes para a saúde mental. Contudo, o hospital continua monitorando sintomas, depois disso. “Se, após esse tempo, o paciente não apresentar indícios, é transferido para outros setores. E, caso alguém comece a apresentar sinais — como tosse, falta de ar, diarreia — realizamos o teste de Covid-19 dentro do próprio hospital mesmo”, revela a médica.

Enquanto o resultado não sai, a pessoa com suspeita volta para o isolamento. “Com o resultado em mãos, se der negativo, ela volta para o convívio. Caso dê positivo, fica 14 dias no quarto, recebendo todos os cuidados com medicação, alimentação e o que mais for preciso”, revela.

Contudo, há situações nas quais Luciana Mancini recomenda a transferência a um hospital com mais recursos. “É o caso, por exemplo, de um paciente com idade avançada ou que tenha comorbidades, como pressão alta e diabetes. Levamos ele a um local que disponibilize tratamentos intensivos, como os de UTI”.

Quais são os quadros que demandam internação?

Qualquer caso no qual a pessoa ou a família sinta dificuldade para lidar com situação merece atenção. Contudo, segundo a médica, há contextos que pedem mais cuidados.

“Pensando na saúde mental, principalmente na ansiedade e na depressão, sugerimos a internação quando a pessoa perde a capacidade de realizar as atividades básicas, como alimentar-se, trabalhar, manter a higiene ou continuar com qualquer outra atividade que, antes, dava prazer”, alerta.

Indivíduos que estejam perdendo peso ou abusando de drogas ou álcool também são casos que precisam de cautela, já que a vida e a saúde podem estar em risco. “Muitas vezes, é preciso intervir com medicação, alimentação especial e um tratamento personalizado, até que o quadro se estabilize e a pessoa possa ser encaminhada ao tratamento ambulatorial”, completa.

Como agir na necessidade de internação na quarentena?

É habitual que hospitais precisem lidar com aglomeração de pessoas. Contudo, na época da pandemia, é ideal evitar isso. Assim, a clínica-geral recomenda, se possível, telefonar, com antecedência, e agendar a avaliação. Isso evita o risco de encontros desnecessários ou de aguardar muito tempo, em uma sala, junto de vários pacientes.

Todo cuidado para evitar contaminação é pouco, então, mesmo com o horário agendado, é necessário ir de máscara facial, usar álcool em gel e lavar as mãos após o contato com qualquer material, principalmente se ele estiver no ambiente hospitalar, a exemplo de uma porta ou uma caneta.

Quando alguém precisa ser internado, é de praxe as famílias levarem outros membros, para que haja despedidas no ambiente. Porém, a médica aconselha, por enquanto, evitar essas situações. “Quanto menos pessoas, melhor. De preferência, que vá apenas um acompanhante, que será o responsável por passar as informações solicitadas”.

Por fim, caso pense na possibilidade de internação, fica a última sugestão: preste atenção se o local proporciona todas essas cautelas aqui citadas, para evitar contaminação, combinado? Prezar pela saúde mental é importante, mas sem deixar de lado os outros cuidados.

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