Levantamento aponta queda nos registros de infartos durante a pandemia e revela baixa procura por ajuda médica
Os médicos na linha de frente do combate ao coronavírus vêm acompanhando uma queda sensível nos atendimentos médico-hospitalares de urgência e emergência durante a pandemia, tanto em relação a doenças neurológicas, como AVC, quanto as cardíacas, como infartos. Segundo levantamento feito pelo Núcleo de Ensino e Pesquisa do Hospital Angelina Caron (HAC), a queda nos registros de pacientes com infartos na Unidade de Dor Torácica (UDT) do hospital foi de 21,5% entre os meses de março e maio, na comparação com 2019.
“Nesses três meses de 2019, tivemos 70 infartos atendidos no HAC. Nesse mesmo recorte temporal, em 2020, o número caiu para 48 casos. Isso revela uma queda na procura por ajuda médica durante a pandemia, mesmo em casos de urgência e emergência, provavelmente por receio de contrair a Covid-19”, avalia o médico cardiologista Dalton Precoma, que coordena o Núcleo e é chefe do Setor de Cardiologia do HAC.
Precoma destaca que os casos levantados pelo estudo se referem a um tipo de infarto mais grave, quando os chamados “marcadores de necrose” alteram o eletrocardiograma e outros exames. “Outro dado relevante que levantamos foi que, em 2019, tivemos 24 infartos no mês de abril, caindo para 13 em abril de 2020. Ou seja, 46% a menos.”
31% mais mortes por doenças cardiovasculares
Dados divulgados no final de junho pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), revelam que, durante a pandemia, as mortes por doenças cardiovasculares cresceram 31% no Brasil. Entre 16 de março e 31 de maio de 2019, 14.938 pessoas faleceram por problemas como como choque cardiogênico e parada cardiorrespiratória. No mesmo período de 2020, o número saltou para 19.573.
Cuidados e retomada gradual
O cardiologista enfatiza que pacientes com doenças cardíacas e crônicas devem manter os cuidados durante o isolamento social, bem como retomar gradualmente os atendimentos eletivos. “Algumas pessoas, por medo de ir ao médico, podem estar represando sintomas na quarentena. Quem sente falta de ar, palpitação, dor no peito, tontura, dor de cabeça, sintomas comuns a hipertensos, por exemplo, pode não estar procurando o atendimento necessário até que seja tarde demais, com agravamento dos sintomas”, aconselha.
Em relação aos pacientes dos grupos de risco, com mais de 60 anos e doenças crônicas, Precoma faz uma ressalva. “Temos visto bem poucos pacientes idosos e doentes crônicos fazendo seus check ups periódicos, o que é esperado devido ao isolamento. Recomendamos que eles agendem uma consulta e venham fazer seus exames anuais apenas se tiverem algum sintoma diferente, estresse ou reação a medicamentos.”
Região Metropolitana de Curitiba
A UDT do Hospital Angelina Caron encabeça os atendimentos de infartos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na Região Metropolitana de Curitiba. “No total, somos cinco hospitais de referência no atendimento de emergências cardíacas, mas são poucas as instituições com uma unidade específica para esse atendimento, com protocolos e plantonistas direcionados aos casos de dor torácica, como a nossa UDT”, ressalta.
Além de atendimento 24 horas, a UDT conta com um cardiologista de plantão.