Livre brincar: saúde psico emocional e desenvolvimento infantil

É só entrar em qualquer shopping para constatar as inúmeras opções de brinquedos e de brincadeiras programadas que existem atualmente à disposição da garotada. São atividades para estimular isso ou aquilo, e, supostamente tornar a criança “mais inteligente”.

Mas afinal, o que é “Brincar”? Como disse Walter Benjamin – no livro Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação – “não há dúvida que brincar significa sempre libertação.”

“Livre Brincar” é uma atividade espontânea que dá total liberdade para a criança dar asas à imaginação.

Em contraposição às brincadeiras assistidas/organizadas, onde há diretrizes e regras pré estabelecidas, o “Livre Brincar” é um convite à criatividade da criança, estimulando-a a experimentar e a buscar o novo, frente a um universo de possibilidades, permitindo que ela se expresse, invente e construa as bases da sua própria brincadeira.

É justamente isso que torna essa modalidade de brincar tão enriquecedora e relevante para a formação da criança. Se engana quem acredita que o “Livre Brincar” é uma ação lúdica “descompromissada”. Na brincadeira assistida há o compromisso com determinadas regras ou propostas inerentes à própria brincadeira (por exemplo, as regras de um jogo).

Já no “Livre Brincar” o compromisso é com a imaginação. “Livre Brincar” é ato criativo, similar à do artista ou do escritor. Aqui cabe lembrar um verso de Manoel de Barros na Terceira Infância de suas Memórias Inventadas: “Inventei um menino levado da breca para me Ser.”

Assim como a invenção do menino-poeta precede o seu Ser, no “Livre Brincar” a invenção da brincadeira precede o ato de brincar. Começa-se a brincar antes da própria brincadeira, pois aqui, brincar é aventurar-se e descobrir-se.

O “Livre Brincar” guarda semelhança com o ato da leitura: os livros, por mais que conduzam o leitor em narrativas pré-determinadas, precisam ser  preenchidos pela imaginação. Cada leitor imagina a personagem, o desenrolar da ação ou determinada paisagem de forma única, a partir de suas próprias referências. É isso que torna ainda mais complexa a transposição de um livro (versão aberta que insere o leitor) para o cinema (versão fechada que reflete a visão do diretor).

O “Brincar Livre” é momento onde a criança vai explorar o mundo, criar conexões e aprender experimentando. Além de estimular o cérebro, esta modalidade de brincadeira permite que ela faça ensaios da futura vida adulta ( brincar de casinha por exemplo) e elabore questões psicoemocionais, formulando perguntas e encontrando respostas por uma via lúdica. Através da brincadeira a criança experimenta e se insere no mundo.

A despeito de sua importância, o “Livre Brincar” é uma modalidade lúdica sob risco de extinção no mundo moderno, pois as crianças de hoje não são mais  convidadas a criarem suas próprias narrativas. Ao contrário, são estimuladas à adentrarem narrativas prontas, pré definidas, seja por meio de videogames, programas televisivos, aplicativos de celular e etc.

Ao expor excessivamente a criança à essas atividades estamos comprometendo sua capacidade de criar, não somente no que tange ao aspecto lúdico e imaginativo, mas atrofiando sua capacidade de resposta aos inúmeros desafios que certamente a vida irá lhe propor.

Não por acaso proliferam os manuais de autoajuda, com fórmulas prontas que servem a diferentes propósitos, mas não contemplam as especificidades de cada indivíduo.

Para cada criança deveria ser permitido construir seu modo de ser único, de forma a conseguir elaborar suas questões valendo-se de seus próprios recursos e instrumental, resultantes de sua bagagem e experiência.

É preciso sempre lembrar do que disse Tolstói em seu romance de estreia, Infância: “Se tomarmos tudo ao pé da letra, não haverá brincadeira nenhuma.” E, se não houver brincadeiras, o que é que sobra?”

[1] Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação, pg. 85

[2] Infância. Ed. Todavia. Pg. 52

Lílian Cristina Moreira – Pediatra e Homeopata – CRM: 53.53292-0

Especialista: médica pediatra e homeopata.

Fala sobre: os mil primeiros dias da crianças, vacinas da infância, autismo, desfralde, o que é a 1ª infância, perigos da 1ª infância, prevenção de doenças da 1ª infância, “self-made mothers” (mães que acham que já sabem tudo sobre a saúde do bebê através das redes sociais), primeiros dentinhos, como lidar com cólicas, massagem para cólicas e como reanimar bebês e crianças pequenas.

Mini currículo: Graduada em Medicina em 1989, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, FCM UERJ, Residência Médica em Pediatria 1990-1992 pelo HGJ – Hospital Geral de Jacarepaguá /INAMPS, Pós-graduação em Homeopatia pelo Instituto Hahnemanniano do Brasil – IHB- 1992- 1995, recebendo título de especialista pela instituição, Título de especialista em pediatria em 1995 – TEP – recebido após aprovação na respectiva prova ministrada pela SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria e Aprovada no curso PALS- Pediatric Advanced Life Support- 2012- da Academia Americana de Pediatria – AAP- ministrado pela SBP em conjunto com a SOPERJ.

Instagram: https://www.instagram.com/cordainfancia/

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