As mulheres que moram em mim

por Suellen Alves

Quantas mulheres há em você?

As mulheres que moram em mim estão silenciosas, pensantes e reflexivas, porém não mais silenciadas.

Silenciadas nunca mais serão, todas as mulheres que moram em mim não se calam, mas as vozes que gritaram um emaranhado de palavras incompreensíveis, agora se comunicam em vozes elaboradas, se organizam!

Em mim há tantas mulheres, hostis e imprevisíveis, carrego o sangue das mulheres caçadas a laço nas florestas de um país que nega sua história.

Índias que correm em minhas veias feito onças.

Índias em fugas de destinos que não escolheram, mas sucumbiram aos desmandos patriarcais, autoritários e violentos.

Há mulheres imaturas que pelo excesso de proteção acreditaram-se seguras, porém viveram tão intensamente que permitiram violências contra si mesma. Já não as culpo, as acolho, as entendo.

Das mulheres que moram em mim, algumas querem a vida fluída com as águas de um rio, sem nunca serem as mesmas, sem nunca repetirem- se, sem nunca arrependerem- se, assim como as águas de um rio, ora cristalina, ora turva….

Banhar-se nas águas tranquilas, resistir nas águas turbulentas!

As mulheres que moram em mim carregam culpas cristãs, culpas maternas, culpas por não serem boas moças, culpas que não são nossas. Culpadas sempre seremos, bruxas queimadas nas fogueiras que morando em mim, ateiam fogo em tudo ao redor.

As mulheres que moram em mim pariram seus filhos em casa, mais de uma dezena deles, feit0 onças lamberam e defenderam suas crias contra tudo e todos, muitas vezes, sozinhas. Guerreiras sim, mas não por opção, por imposição de destinos escolhidos por outrem ou para os mais céticos, por imposição do sistema.

As mulheres que moram em mim são amas de leite, são lavadeiras de Rio, são crianças que levam alimentos nas plantações de algodão, são crianças que cuidam dos irmãos, crianças que cozinham feijão, crianças que tiveram suas infâncias abreviadas, para que eu pudesse estar escrevendo isso hoje!

As mulheres que vivem em mim são criadoras, desenham, esculpem, expressam- se e me enchem de fôlego para os dias difíceis…

Artistas, artesãs e rendeiras e mais! São mulheres que das tintas criam vidas, dos desenhos me dão respiro e me inspiram, dos bordados tecem suas histórias.

São protetoras da nossa cultura, da nossa ancestralidade, são negras, são polacas, são amarelas, são brancas, são guardiãs das nossas memórias.  

Quando floresço e as injustiças do mundo derrubam minhas folhas e pareço que estou a morrer, elas vêm me aguar, não me deixam secar!

As mulheres que moram em mim, também vivem em vc!

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