Família e gestação: como preparar seu PET, de verdade, para a chegada do bebê

"É preciso prepará-lo para lidar com as mudanças e dividir a atenção dos tutores", afirma Cleber Santos, especialista em comportamento animal da Comportpet

Segundo pesquisa realizada pela Proteção Animal Mundial comparando Brasil, China, Índia, Quênia e Tailândia, os brasileiros são os que mais têm cachorros em casa. Os dados apontam que 77% dos tutores de pets têm cães, e desses, 94% consideram o cão como um filho.

Durante a gestação, os preparativos relacionados à chegada do bebê envolvem a família. Quando já existe uma criança em casa, o caminho se dá em conversas e interações na participação das compras e da montagem do quarto. No entanto, com os pets, essa preparação fica aquém do ideal, colaborando para uma série de impactos negativos na vida do animal e, consequentemente, no convívio dele com a criança”, afirma Cleber Santos, especialista em comportamento animal e CEO da Comportpet.

Segundo o especialista, mesmo tratando seus animais de estimação como filhos, os tutores costumam subestimar os desafios enfrentados nesse período de transição, percebendo apenas quando distúrbios de comportamento do animal começam a chamar atenção como agressividade, agitação excessiva ou apatia.

Santos, que se divide entre a gestão da creche (day care) e o hotel, além de adestramento e cursos do setor, afirma que tem aumentado bastante a procura de tutores em busca de ajuda para animais deprimidos ou fora de controle, algo nunca antes ocorrido dentro de casa.

Ele enfatiza que, inclusive, as mudanças bruscas de comportamento estão entre as causas mais comuns de abandono de animais, juntamente com receio de transmissão de doenças do pet para a criança até a falta de estrutura financeira alegada por tutores para cuidar do pet após a chegada de um novo membro à família.

“Geralmente os pets começam a ficar reprimidos por não poderem mais ter os mesmos comportamentos que tinham antes. A conversa e o contato do animalzinho com a barriga da gestante formam um vínculo incrível, mas é preciso também haver um treino específico para que ele consiga conviver de forma diferente em seu ambiente e com a sua família neste novo momento. Quando me reúno com os clientes humanos, friso que estou lá para preparar a família de forma integral, e aquela é a hora de cuidar do pet. Ele não pode ser expectador, é essencial preparar acontecimentos especiais para ele também”, salienta.

Simulando a chegada do bebê

Segundo Cleber, uma boa preparação do animal deve começar ainda no período pré-natal, quando os tutores estão com, aproximadamente, seis meses de gestação.

Nessa fase, acontecem simulações de situações semelhantes às que poderiam acontecer dentro da casa com o bebê. São ensinados comandos para que o tutor consiga ter mais controle sobre o animal, a fim de que ele consiga reagir bem com visitas, lidar bem com brinquedos espalhados pela casa e com a própria necessidade de silêncio e cuidados com o bercinho da criança.

Outros comportamentos que podem ser treinados nesse momento são: não entrar no quarto sem permissão quando a mãe está amamentando, não subir no sofá e acabar passando por cima da criança (mesmo sem a intenção de machucar) e andar ao lado do carrinho de bebê durante os passeios.

O especialista enfatiza que, durante todo o treinamento de cognição, é também realizado um trabalho com o emocional do pet para seu autocontrole. Considerando que a tutora já está com a barriga pesada e a rotina com o pet fora do padrão, incorporamos comandos positivos para que ele consiga entender que o contexto mudou e as regras para ele também mudaram. Ele ainda considera o trabalho emocional com os pets crucial nessa fase em virtude da capacidade deles em absorver as reações.

“Se os pais estão nervosos e inseguros, isso será transmitido diretamente ao pet, que pode reagir da mesma forma”, completa.

Santos explica que as sessões podem acontecer on-line ou presencialmente, com duração média de 40 minutos, cada. A quantidade de encontros vai depender de diferentes fatores, tais como raça, personalidade do pet e estado atual de comportamento. “O Labrador, por exemplo, é dócil com crianças. Por outro lado, é agitado e sua brincadeira mais tranquila pode machucar bastante. É importante olhar caso a caso”, completa.

Adaptação e Integração

A segunda e a terceira fases narradas por Santos englobam a chegada do bebê e os primeiros contatos entre o pet e o pequeno. No primeiro momento, quando os pais estão mais conectados aos cuidados do recém-nascido, o especialista orienta gastar a energia do animal corretamente, para que ele não tenha picos de ansiedade ou comportamentos inconscientes, como sair correndo sem controle, latir muito, gerando assim stress nos tutores e na criança. Isso se dá com exercícios que passam por atividades físicas, lúdicas e mentais, geralmente feitos em área externa com equipe especializada.

Já na integração do animalzinho com o bebê, a recomendação é consultar um profissional da área pet para seguir orientações e evitar acidentes desnecessários.

“Às vezes o animal não é receptivo à criança e pode não se aproximar ou não reagir bem ao contato físico. É preciso um olhar integrado, voltado para as emoções desse animal dentro de casa, com o compromisso de fazê-lo internalizar a nova situação. A preparação é para todos”, frisa Santos.

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